
“Tem dias em que a gente, se sente um pouco assim menos gente, um dia daqueles se graça de chuva a cair na vidraça...”
Como disse Raul em uma de suas muitas belas canções, desconhecidas, tem dias em que me sinto assim, eu ser humano pateticamente iludido por mim mesmo, comprando fantasiais pra me sentir cada vez mais normal, mais igual, procurando verdades( que como a frase feita ), são mentiras que de tanto alguém contar, temos como verdade... Eu homem parte do insolúvel da sociedade, descrente das crendices mas prestando atenção no horóscopo, que um cidadão qualquer escreve em sua mesa pela manhã, enquanto limpa o papel sujo de manteiga...Eu homem, que pra se sentir mais homem, posso ate medir o tamanho do meu pênis pra me sentir mais seguro, definir meus bíceps entre estrias e gordura, ou ate disputar pra ver quem têm o som mais alto, tanto faz já que todas as coisas que tenho são uma extensão do meu pênis, que insiste em falhar, mas é o preço que eu pago por ser tão bonito...enquanto Maria Betânia canta na 104, e eu não entendo nada, não sinto nada!
*“Esse sou eu, parado na esquina, na mesma esquina de outras canções”, reproduzo minha vida, como um capitulo de novelas diferentes que passa ano após ano, e sempre dizem a mesma coisa “nada,” mas eu não me importo, adoro ver os artistas no domingo no Faustão, falando de seus personagens como se fossem outras pessoas, que existem de verdade, e deposito minhas frustrações nesse personagem, pois eu sei que ao contrario da minha vida, terá um final feliz... Há! O que é ser homem?...Os mais otimistas dizem que é só tentar não ser mulher!...Os mais pessimistas dizem que é trabalhar duro, ser responsável, ser pai de família, ser respeitado... Mas pra mim, ser homem é em um belo dia, cansado de trabalhar você senta e ouve no rádio:
**E agora José?
A festa acabou a Luz apagou
O povo sumiu, a noite esfriou.
E agora José?
E agora você?
Você que é sem nome, que zomba dos outros,
Você que faz versos que ama protesta.
E agora José?
Está sem mulher, está sem carinho,
Está sem discurso, já não pode beber.
Já não pode fumar, cuspir já não pode,
A noite esfriou, o dia não veio.
O bonde não veio, o riso não veio,
Não veio a utopia e tudo acabou
E tudo fugiu e tudo mofou
E agora José?
Sua doce palavra, seu instante de febre.
Sua gula e jejum sua biblioteca
Sua lava de ouro seu terno de vidro
Sua incoerência seu ódio e agora?
Com a chave na mão quer abrir a porta
Não existe porta, quer morrer no mar.
Mas o mar secou, quer ir para Minas.
Minas não há mais José e agora?
Se você gritasse se você gemesse,
Se você tocasse a valsa vienense.
Se você dormisse se você cansasse
se você morresse, mas você não morre.
Você é duro José sozinho do escuro.
Qual bicho do mato, sem teogonia,
Sem parede nua para se encostar
Sem cavalo preto que fuja a galope,
Você marcha José, José para onde?
(Você marcha José, José para onde?).
(Marcha José, José para onde?).
(José para onde?).
(Para onde?).
E agora José, José para onde?
E agora José, para onde?
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E se pergunta: a onde eu estava?... E agora?...
Perguntar por quê? E nunca ter a resposta...
*Trecho de pampa no walkmen, das varias variáveis de H.Gessinger
** E agora joosé ( Paulo Diniz)