sábado, 6 de outubro de 2007

[desligue a tv e leia]Memórias de um tempo que nem faz tanto tempo que passou.

Nunca me senti uma criança normal, sempre achei que na minha cabeça as coisas eram diferentes, passava horas sentado na calçada depois da chuva, para ficar olhando os pingos que caiam da árvore em uma poça feita pela chuva, caiam as folhas que flutuavam na poça, e eram atingidas pelos pingos da árvore como navios em uma guerra, e eu ficava imaginando milhões de coisas, coisas que nunca fiz, coisas que sempre faço, batalhas em planetas distantes, realidades em que eu nunca estive, imaginava ser muitas pessoas no futuro, sentia-me particular em um mundo que sempre me cobrava para ser parecido com alguém, ou diferente, via os caras com basqueteiras, jaquetas jeans, sendo populares em frente a escola, com carros legais com um toca fitas, as garotas legais dando em cima, aquele corte de cabelo, aquela moto, o som daquela banda, estar no ginásio, e me imaginava sendo esses caras...

Eu imaginava problemas de percepção com cores, achava que o rosa que eu via não era igual ao de outra pessoa, pensava que o rosa dessa pessoa, ou o meu, deveria ser de outra cor, apesar da mesma denominação de rosa, achava que enxergávamos cores diferentes, era tudo tão confuso e desigual, o mundo se ordenava em outra freqüência, apesar das paisagens continuarem as mesmas, os muros do colégio não eram iguais aos de hoje, eles sempre tinham manchas escuras que davam um ar meio gótico, as árvores quase nunca eram podadas, chovia muito ou não chovia nada, minha vida era uma coisa tão insignificante, e ao mesmo tempo o universo na minha mente nunca foi tão grande, tão cheio de significado.

O país afogado por pacotes econômicos que não davam em nada, e eu achava tudo isso tão difícil de entender, só me preocupava com o próximo verão, o próximo inverno, quando iria ganhar minha bicicleta, um boneco dos comandos em ação, minha vida se resumia, em fingir não entender os problemas de minha casa, o que fazia com que minha casa nunca ficasse atenta aos meus problemas, assim levando minha família a me incluir em toda pauta de discussão, mas nunca como problema principal, era sempre o quadijuvante de todas as brigas entre meu pai e minha mãe, o fim do cordão o filho caçula, isso me rendia algumas regalias, como sobremesas extras e muito mimo na ora de dormir, o que muitas vezes ficava a cargo de minha irmã me contar histórias, sempre com fundo moral, como na vez que ela me contou que se eu continuasse a comer algumas frutas ( que por coincidência eram todas as suas frutas preferidas ), nasceria um árvore em minha barriga, de tanto engolir caroço, fato que me deixou sem dormir por algumas dias, de tanto imaginar que iria nascer um pé de carambola na minha barriga.

Lembro que eu ficava chocado e impressionado, com a quantidade de borboletas mortas e pregadas no radiador do carro do meu pai, achava lindo aquele monte de asas com cores vibrantes, mas apesar de achar terrível, imaginava que elas tiveram uma morte rápida. Via meu pai sair toda sexta feira para curtir sua boemia, enquanto minha mãe ficava em casa, nunca achei isso normal, mas fingia não entender mais uma vez, e tentava passar despercebido, pois ele sempre me dava uns trocados para que eu engraxasse suas botas, trocados que no sábado se transformavam em aventuras fantásticas, na feira da cidade, tomando sorvete e jogando bola com os bolsos cheios de confeitos, no meio da rua com os pés no chão... á vida era um a coisa boa.

O que mas me angustia, é que esse tempo nem faz tanto tempo assim.

3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

oiiiiiiiiiii....
sou eu Nágila do curso CTA....

hummmmmm... Legal....essa historia,
é muito emocionante...

xau bjs.....

• Thabata Medeiros Füllÿ • disse...

Esse meu professor eu num sei não vio?
Mais tá legal sim! (y)


Beeeijos amore
Passa lá no meo blog!
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