sábado, 6 de dezembro de 2008


Como toda pessoa que gosta de paz, silêncio e tranqüilidade, fui arrastado pro shopping em plena quarta-feira debaixo de uma baita chuva. E eu tinha fome, muita fome. Vocês já devem imaginar, certo? É óbvio que não me deixaram comer o mais rápido possível. Surgiam lojas e lojas até que, enfim, no horizonte eu vislumbrei uma praça de alimentação mega-lotada.
Com muita paciência, consegui sentar. E pude, finalmente, fazer o tão desejado pedido: uma pizza com tudo que é possível, e de um tamanho considerável. O ambiente era um horror. Imagine centenas de pessoas molhadas num lugar fechado, todas famintas e ávidas por um lugar pra sentar.
A meu lado, numa outra mesa, um senhor de meia idade com cara de porco com câimbra falava alto, alto falava. Um amigo mais acanhado ouvia tudo e nem se manifestava. A pizza não vinha e já se passavam vinte minutos, pelo menos. Eu sofria com aquela situação.
Eis que, por um instante de miragem, vi o tão desejado alimento vindo em minha direção. Tudo se calava ao meu redor e minha boca se preparava para o golpe derradeiro contra a fome. Foi quando, pavorosamente, o garçom começou a andar para a mesa do gordo. Oh, ódio. Oh, melancolia, Oh, desassossego.
O sujeito, balofo até os ossos, não parava de falar, e a pizza esfriava sob suas palavras sem que ele comesse do modo que ela merecia. Mas a história até que era interessante. Contava de sua esposa. Um dia ele chegou em casa tarde, do serviço, e encontrou a cozinha desarrumada, prato em cima da mesa e o banheiro de porta escancarada e de luz acesa. Como um perfeito ignorante, ele reclamou de tudo isso e foi dormir puto da vida, sem arrumar nada e com fome.
No dia seguinte, antes mesmo de tirar satisfação com a pobre coitada da mulher, ela quis saber por que ele não tinha jantado. Poxa vida. Ela havia deixado a comida no forno, a mesa posta e um recado do espelho no banheiro explicando tudinho. O gordo ficou com um tremendo remorso, dizia ele. Pois as pessoas até tendem a ser boas, às vezes a gente atrapalha.
Nesse meio de tempo, minha pizza chegava. Devorei-a num breve instante. Depois daquele dia nunca mais dormiria sem me certificar de que não havia um recado no espelho do banheiro.

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